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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Psicoterapias


Psicoterapias são métodos de tratamentos para problemas emocionais, visando remover ou modificar sintomas existentes e corrigir padrões disfuncionais de relações interpessoais. Na maioria das vezes o terapeuta vale-se da palavra e estabelece um diálogo com a finalidade de corrigir comportamentos e/ou sentimentos anômalos, mas pode se valer também de expressão corporal, representações teatrais, etc. Contudo, o verdadeiro diálogo terapêutico não deve ser um simples bate-papo, ainda que reconfortante, mas obedecer a princípios técnicos que envolvem uma técnica rigorosa. Por isso, a formação do terapeuta é, necessariamente, longa e minuciosa. O terapeuta tem a dupla tarefa de, por um lado, não deixar que a relação com os pacientes perca o necessário calor humano e, por outro, não deixar que ela seja uma simples conversação informal. As técnicas utilizadas variam em função das teorias psicológicas em que se baseiam, dos objetivos que tenham, da frequência e da duração das sessões.

Uma boa relação profissional-paciente (médico-paciente, psicólogo-paciente, etc.) deve ser distinguida das psicoterapias. Enquanto aquela deve existir em toda atividade profissional, qualquer que seja seu objetivo e pode basear-se apenas no bom senso, as psicoterapias têm como objetivos específicos tratar problemas psicológicos mediante técnicas especiais e só devem ser conduzidas por especialistas.

A literatura especializada faz menção a mais de 400 tipos diferentes de psicoterapias. Daí se vê, então, as dificuldades que enfrenta o profissional que tem que escolher o tipo de psicoterapia mais adequado para um determinado paciente. Fatores de diversas naturezas devem ser levados em conta: tipo de problema psíquico do paciente, sua motivação, maior ou menor exigência de privacidade, disponibilidade de tempo e dinheiro, constituição da personalidade do paciente, capacidade de estabelecer uma boa relação interpessoal, existência ou não de profissionais especializados no local onde o paciente reside, etc. Aqui serão mencionados apenas os tipos mais comuns:

Psicanálise

O termo “psicanálise” refere-se a:

1.Uma teoria psicológica.
2.Um método de investigação do inconsciente.
3.Uma técnica terapêutica.

Nesse último sentido, a psicanálise é a forma mais sofisticada de psicoterapia e exige do profissional uma preparação longa e custosa. A psicanálise foi iniciada por Sigmund Freud em princípios do século XX, destinada a tratar as neuroses, e visa promover uma reformulação profunda e radical da personalidade. Em geral, ela é um processo muito longo (alguns anos) que se desenvolve em 3 a 5 sessões por semana. O paciente deve ficar recostado num divã, com o psicanalista assentado à sua cabeceira. Este se comporta de uma maneira neutra, sem expressar opiniões, fazer perguntas ou dirigir as entrevistas em qualquer sentido, concedendo ao paciente liberdade para escolher o rumo de sua conversação. Intervém em alguns momentos apenas para apontar certas conexões ou incoerências da fala ou do comportamento dos pacientes, não notadas por eles (inconscientes), visando com isso produzir insights no paciente. A grande frequência de sessões e a conduta passiva permitem que se desenvolva uma regressão e uma relação transferencial em que o paciente desloca sentimentos originariamente dirigidos a pessoas do seu passado para a figura do analista, os quais devem ser tecnicamente manejados em benefício do paciente.

Nos últimos anos, sob a influência de Jacques Lacan, a psicanálise vem passando por grandes modificações teóricas e técnicas e fica difícil atribuir a ela parâmetros estáveis.

Psicoterapias de orientação psicanalítica

São psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica da mente (freudianas, basicamente), mas destinadas a tratar problemas emocionais limitados e remover defesas patológicas, sem visar uma reformulação profunda da personalidade. Em geral o divã, um instrumento destinado a promover ou facilitar a transferência, não é utilizado. O terapeuta deve observar alguns dos princípios terapêuticos da psicanálise, podendo, no entanto, comportar-se de forma mais interveniente, dirigindo as associações do paciente para aspectos patológicos mais específicos.

Psicoterapias breves e focais

São psicoterapias que se valem de recursos dinâmicos (psicanalíticos) ou outros (reforço do ego, experiência emocional corretiva, aprendizagem, etc.). Caracteriza-se pelo estabelecimento de sintomas-foco, pela eleição de uma hipótese psicodinâmica e pela limitação do número de sessões (em torno de 20 sessões). Ao contrário das terapias precedentes, interessa-se mais pelo futuro que pelo passado. O terapeuta age de maneira ativa, dirigindo as associações e mantendo o foco eleito e podendo mesmo ter atitudes de aconselhamento e apoio.

Psicoterapias de apoio

São terapias em que o terapeuta oferece suporte a um ego enfraquecido, sob a forma de encorajamentos, conselhos, exortações, ensinamentos, sugestões, direcionamentos, etc. Em geral são terapias de duração breve, direcionadas a crises, mas também podem ser terapias longas que procuram manter suportes para pessoas de ego constitutivamente frágil. Geralmente o terapeuta adotará um papel ativo e transparente e aparecerá para o paciente como um modelo ao qual ele deve se identificar. Elas são utilizadas em crises e não pretendem fazer modificação na personalidade, mas recompor o equilíbrio existente previamente.

Psicoterapias comportamentais

São terapias que se baseiam em alguns princípios da teoria da aprendizagem (condicionamento clássico, condicionamento operante, aprendizagem social, inibição recíproca, dessensibilização, etc.), segundo os quais os comportamentos anormais são resultantes de aprendizagem e podem ser reaprendidos. As terapias comportamentais procuram detalhar ao máximo os sintomas do paciente: o que determina o aparecimento deles, o que os agrava ou desencadeia, quais seus antecedentes, em que situações se manifestam e quais situações os mantêm, que pensamentos os acompanham, quais as táticas utilizadas pelos pacientes para evitá-los, etc., e se vale das suas diferentes técnicas para fazer face a eles. Cada vez mais os terapeutas comportamentais dão valor também a aspectos interiores da pessoa, como sentimentos e pensamentos disfuncionais. A denominação de “cognitivo-comportamentais” que essas psicoterapias vêm assumindo, denotam a tendência a conceder importância também a fatores subjetivos dos comportamentos.

Psicoterapias de grupo

Trabalho com grupos reunidos em função de problemas comuns (grupos de gestantes, grupos de diabéticos, grupos de dependentes químicos, etc.) ou gerais. Nos grupos podem ser mais bem observados e tratados os padrões anômalos de interação interpessoal. Os terapeutas de grupo podem ter diversas orientações teóricas, mas visam sempre resolver problemas pessoais ou grupais, por meio de diferentes modos de intervenção (interpretações psicanalíticas, role playing, exercícios estruturados, etc.). Além disso, o simples fato de participar de um grupo aumenta o sentimento de pertinência e solidariedade, facilita a sociabilização, permite constatar que muitos problemas são comuns a muitas pessoas e como pessoas diferentes os solucionam, além de permitir a catarse, através da ventilação dos problemas e emoções.

Ludoterapias

A ludoterapia é uma aplicação da psicoterapia às crianças. Como elas ainda não conseguem manter um diálogo pelo tempo necessário, nem são capazes de entendê-lo cabalmente, a comunicação com as crianças é feita de maneira simbólica mediante o uso de brinquedos (fantoches, jogos, desenhos, etc.). Estes são, ao mesmo tempo, a maneira como a criança se expressa e o material que o terapeuta interpreta e procura compreender. Quando, por exemplo, uma criança toma dois bonequinhos e simula uma briga entre eles e ao mesmo tempo pede que eles parem de brigar, por certo está reproduzindo uma cena conhecida que lhe é aflitiva. Além disso, com sua imaginação a criança cria super-herois, fadas, dragões, feiticeiras e outras figuras míticas e interage com elas de modo a vivenciar seu heroísmo e vencer seus medos, o que as ajuda a criar maior confiança e coragem. Ao mesmo tempo, a ludoterapia permite que a criança libere tensões, frustrações, inseguranças, agressividades e confusões, sem que a criança tenha consciência de estar fazendo isso.

Hipnose

A hipnose não é uma técnica psicoterápica, mas um recurso operativo utilizado por algumas correntes de psicoterapia. A hipnoanálise, por exemplo, é uma variação (pouco utilizada) do método psicanalítico que usa a hipnose para vencer determinadas resistências, facilitar as livres associações e a expressão de emoções. No entanto, nem toda pessoa é susceptível de ser hipnotizada e nem todo psicanalista tem treinamento para hipnotizar. Ademais, é discutível se o ato de hipnotizar é compatível com os requisitos da técnica psicanalítica clássica. Grande parte dos profissionais que atualmente se valem da hipnose não é formada de psicanalistas, mas de terapeutas de orientações próprias. A chamada hipnoterapia é hoje uma corrente autônoma de tratamento. Em muitas oportunidades, a hipnose é utilizada com outras finalidades que não as psicoterápicas: tratamentos dentários, enfrentamento de situações específicas e até mesmo demonstrações em espetáculos.

Psicodramas

O psicodrama é uma variante das psicoterapias de grupo que as associa com técnicas de representação dramática oriundas do teatro. Nela o terapeuta procura que o cliente atue, diante de um grupo de pessoas, aspectos especiais dos conflitos que verbaliza e se vale dessa atuação para fazer suas análises, levando em conta, também, as observações e comentários feitos pelo próprio grupo. Na encenação, o paciente escolherá um cenário e outros membros do grupo como coadjuvantes para representar as pessoas de seu mundo real envolvidas em seus conflitos. Assim, acrescenta ao relato aspectos novos que podem ser assinalados pelo grupo e percebidos por ele próprio. Além disso, o paciente pode ser auxiliado a expressar suas dificuldades por outros membros do grupo que atuam como egos auxiliares. Do ponto de vista do seu desenvolvimento, o psicodrama compreende três fases bem demarcadas: a do aquecimento, em que o grupo, através de conversações, chega ao problema a ser enfocado; a da representação propriamente dita, em que o paciente comanda a encenação dramática de seu problema e a da análise do representado, em que o grupo e o terapeuta fazem comentários sobre o representado. Cada uma dessas fases compreende técnicas específicas, que devem ser introduzidas pelo terapeuta, conforme a conveniência.

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