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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Gagueira


A gagueira é uma disfluência (=não fluência) em que o fluir normal da fala é interrompido por repetições involuntárias e/ou prolongamentos de sons, sílabas, palavras ou frases, bem como por pausas silenciosas involuntárias. O termo gagueira também engloba a hesitação ou pausa anormal antes do discurso. Para muitas pessoas que gaguejam, a repetição é o principal problema e o mais facilmente detectável.

Nenhuma causa única da gagueira é conhecida e crê-se que tanto fatores genéticos quanto ambientais parecem interagir para esse resultado final. Ela geralmente não é devida a um problema físico. Também o nervosismo e o estresse por si sós não causam a gagueira, embora possam desencadeá-la momentaneamente ou agravá-la em pessoas propensas. Por outro lado, as crianças que têm parentes de primeiro grau que gaguejam, têm três vezes mais chances de também desenvolver gagueira. Em casos raros, a gagueira pode ser adquirida na idade adulta, como resultado de um evento neurológico. Nesses casos, ela tem características diferentes da sua equivalente desenvolvimental. A gagueira também pode ser adquirida por razões psicogênicas e surgir, por exemplo, após uma experiência emocional traumática.

Fatores congênitos como trauma físico ao nascimento, dificuldades de aprendizagem, paralisia cerebral, etc, podem desempenhar um papel importante para algumas pessoas que gaguejam. Em outras pessoas, a condição parece estar associada a situações estressantes, como o nascimento de um irmão, por exemplo. Não se constatam diferenças estruturais ou funcionais no cérebro de pessoas gagas, embora recentemente se tenha demonstrado que a organização funcional do córtex auditivo pode ser diferente em pessoas que gaguejam e déficits de processamento auditivo também têm sido propostos como causa da gagueira. Há também indícios de diferenças no processamento linguístico entre pessoas que gaguejam e pessoas que não gaguejam.

A existência de modelos linguísticos tem sido proposta para explicar a heterogeneidade desta condição. A gravidade da gagueira aumenta quando se faz demandas sobre a fala. As demandas de uma fala normal podem ser aumentadas por fatores internos, como a falta de confiança, baixa autoestima ou falta de conhecimentos linguísticos ou por fatores externos, como a pressão dos colegas e da família, a pressa de falar e a insistência sobre o discurso perfeito e assim por diante, piorando o problema. Vários estudos de neuroimagem têm sugerido um modo específico de funcionamento de áreas cerebrais associadas à gagueira. Estudos utilizando a tomografia por emissão de pósitrons (PET) em pessoas gagas mostram alterações em áreas corticais associadas com o processamento da linguagem na área de Broca e em áreas cerebrais associadas à função motora. A ressonância magnética funcional também tem demonstrado alterações no opérculo frontal direito. Muitas evidências apoiam a teoria de que o hemisfério direito das pessoas que gaguejam interfere com a produção da fala do hemisfério esquerdo.

A gagueira afeta os homens cerca de quatro vezes mais do que as mulheres. O impacto da gagueira no estado emocional de uma pessoa pode ser grave e incluir o receio de pronunciar certas vogais ou consoantes, temor de gaguejar em situações sociais, isolamento, ansiedade, vergonha, constrangimento, frustração, medo, raiva, culpa, etc. Por outro lado, esses sentimentos podem aumentar a gagueira. Muitas vezes a pessoa gaga tem que substituir palavras em uma frase, por outras que sinta como mais fáceis de pronunciar, visando esconder a gagueira. A gagueira pode se tornar mais grave ou menos grave em situações específicas, como falar ao telefone, cantar, falar a um grande grupo, etc. A intensidade da gagueira não é constante, mesmo para as pessoas severamente gagas. Os gagos alegam ter dias "bons" e dias "maus" em relação ao seu problema. Na gagueira são evidentes as repetições e prolongamentos de sons, sílabas, palavras ou frases. Elas se diferenciam das disfluências “normais” porque duram mais tempo, ocorrem com mais frequência e implicam em mais esforço e maior tensão. Muitas pessoas gagas se tornam plenamente conscientes da sua desordem, mas outras não.

O diagnóstico da gagueira é feito basicamente pela observação da fala, porque algumas características do discurso da pessoa gaga são fáceis de reconhecer, embora outras não o sejam. Muitas vezes o diagnóstico de gagueira requererá as habilidades de um fonoaudiologista. Um histórico do caso pode ser obtido através de uma detalhada entrevista ou conversa. Em particular, o terapeuta pode fazer testes de disfluências para avaliar a gravidade da gagueira e as previsões para o seu curso. Um diagnóstico diferencial deve ser feito com a síndrome de Asperger, fala entrecortada do parkinsoniano, palilalia, disfonia espasmódica, mutismo seletivo e ansiedade social.

No presente não há nenhuma cura para esta condição, embora haja muitos tratamentos e técnicas que podem ajudar a aumentar a fluência das pessoas gagas. Um fonoaudiologista é o profissional indicado para escolher e aplicar essas técnicas. Sentimentos como isolamento, ansiedade, vergonha, constrangimento, frustração, medo, raiva ou culpa podem se tornar um dos focos do tratamento. Atitudes que peçam "fale devagar", "respire direito", "diga novamente", etc, podem levar a mais dificuldades com a fala.

A gagueira, na maioria dos casos, começa quando a criança está aprendendo a falar e, em pelo menos 20% das crianças afetadas, se desenvolve à medida que a criança amadurece. Com jovens, a disfluência pode ser episódica e seguida por períodos de fluência relativamente normal. A taxa de recuperação da gagueira com o passar do tempo é muito elevada. Muitas crianças de idade pré-escolar que gaguejam, superam a gagueira e terão fala normal à medida que envelhecem restando apenas uma disfonia “normal”.

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