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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ansiedade e entrevista para conseguir trabalho





Ansiedade é um estado emocional normal. Uma das características da sobrevivência da espécie humana e de muitas outras espécies do reino animal é a capacidade de se adaptar às circunstâncias, o que requer uma mudança no desempenho do indivíduo. Essa mudança no desempenho é proporcionada pela ansiedade.

O potencial ansioso humano sempre esteve fisiologicamente presente em toda história de nossa civilização e sempre carregou consigo o sentimento do medo, sua sombra inseparável. É muito difícil dizer se o estresse que acometia o homem pré-histórico diante de um urso invasor de sua caverna era diferente daquilo que sente hoje um cidadão comum diante do assaltante que invade seu lar. Provavelmente não.

Fazem parte da natureza humana certos sentimentos ou certas emoções determinados pela necessidade (de adaptação), pela ameaça, pelo desconhecido e pela perspectiva de sofrimento. A ansiedade passou a ser problemática quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque de exigências desta existência. Na questão do emprego, trata-se da sobrevivência social e econômica, tão importante quanto a sobrevivência que nossos ancestrais tinham que conquistar diante do urso invasor de sua caverna.

O estresse passou a ser o representante emocional da ansiedade, que é mais orgânica que psíquica. E a ansiedade é a representação orgânica do medo e da necessidade adaptativa. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza ameaçadora deste evento, como acontece no mundo animal, mas depende sim do significado atribuído à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. O próprio significado da entrevista para emprego é diferente entre as diferentes pessoas, logo, determinará diferentes níveis de ansiedade.


A ansiedade é patológica quando deixa de ser útil e passa a causar sofrimento excessivo ou prejuízo no desempenho da pessoa. Porém, a ansiedade experimentada na entrevista para emprego comumente se refere a um estado emocional normal, já esperado, um tipo de emoção capaz de melhorar o estado de alerta, que faz a pessoa se adaptar à essa exigência da vida. É assim para a maioria das pessoas.

A ansiedade produzida pela preocupação de que alguma coisa possa dar errada é útil dentro da circunstância apropriada, melhora o desempenho e por isso não representa inconveniente maior. Trata-se da mesma ansiedade que os pilotos experimentam antes da decolagem ou aterrizagem de seus aviões, ou os atletas antes da competição e assim por diante.

A ansiedade patológica, por sua vez, é desproporcional à exigência, prejudica a adaptação e piora o desempenho. Os pacientes com transtorno do pânico, por exemplo, ficam imobilizados e completamente rendidos diante de determinadas situações ou momentos. Da mesma forma que os pacientes fóbicos ou aqueles que sofrem de crises de ansiedade generalizada. Se a ansiedade for muito intensa durante uma entrevista de emprego o desempenho pode ficar irremediavelmente comprometido.

As pessoas que experimentam uma crise de ansiedade aguda podem apresentar uma grande variedade de sintomas, como por exemplo, palpitações, sudorese, tremores, sensações de falta de ar, desconforto torácico, náusea, desconforto abdominal, sensação de tontura ou que vão desmaiar, medo de perder o controle, formigamento, calafrios ou ondas de calor. Evidentemente esses sintomas dependem da intensidade da ansiedade.

Todas as pessoas sofrem certa ansiedade quando percebem que precisam dominar alguma coisa ou situação. Mas existem pessoas que têm uma ansiedade exagerada. Para essas pessoas o medo de não conseguir ter necessário autocontrole e deixar se dominar pela ansiedade já é um dos principais fatores que geram a própria ansiedade. Isso quer dizer que a idéia de que o “outro” está observando (e julgando) sua ansiedadeé mais que suficiente para aumentar o estado ansioso e, aí sim, perder mesmo o controle.

Para aprender a ter algum domínio sobre a ansiedade a pessoa excessivamente ansiosa deve prestar muita atenção ao último parágrafo acima. O medo maior que provoca a ansiedade no momento da entrevista nem sempre é não conseguir o emprego, mas sim, medo do entrevistador perceber a ansiedade do entrevistado. Na realidade, o medo mesmo é a dúvida sobre o que o entrevistador pensará do entrevistado ansioso. Esse é o grande fantasma da entrevista para emprego.

Assim, os pontos chaves da ansiedade desencadeada pela entrevista de emprego em pessoas naturalmente ansiosas são: o medo de não conseguir controlar a ansiedade e o medo daquilo que o entrevistador possa estar pensando sobre o estado emocional ansioso do entrevistado.

O medo de não conseguir controlar a ansiedade acaba gerando mais ansiedade, entretanto, ele será muito menor se o entrevistado fizer algumas considerações para si próprio, se ele tiver consciência de algumas coisas. Primeiro, que a ansiedade é absolutamente esperada para aquele momento, inclusive isso vale para pessoas sabidamente calmas e tranqüilas. Segundo, o medo será também muito menor se o entrevistado tiver nítida consciência de que ele é naturalmente ansioso, sempre foi ansioso e, portanto, não será exatamente hoje, diante desse momento estressante, que ele irá se manter sem ansiedade.

A consciência sobre a própria ansiedade, que faz parte da personalidade do entrevistado, fará com que a expectativa e a dúvida sobre ter ou não ansiedade naquele momento não existirá. Não existirá porque o entrevistado não tem mais dúvida; ele ficará, de fato e sabidamente, muito ansioso. Não há dúvidas sobre isso.

Ficar ansioso durante a entrevista, como vimos, é normal. Por outro lado, ficar muito ansioso é uma característica da personalidade, logo, não há muito que se fazer para mudar esse traço de personalidade.

As pessoas com essa característica devem manter em mente o fato de terem sobrevivido até hoje desse jeito, isso nunca impediu sua sobrevivência e, na maioria das vezes, nem sequer comprometeu um desempenho satisfatório em inúmeras áreas de atividades em sua vida.

A dúvida sobre o que, exatamente, pode estar pensando o entrevistador acerca da ansiedade do entrevistado, como vimos, gera mais ansiedade ainda. Muito bem. Vamos então acabar com essa dúvida.

Se o entrevistado disser (preferentemente) ou responder ao entrevistador que, de fato, está muito ansioso, a tal dúvida deixará de existir em parte. Aquela parte da dúvida se o entrevistado está ou não ansioso acabou; o entrevistador sabe agora que o entrevistado está ansioso porque isso já foi dito.

Resta parte da dúvida sobre o que o entrevistador está pensando de uma pessoa assim tão ansiosa como é o entrevistado confesso. Aí entra a sinceridade como fator decisivo: “- sempre que vou lidar com alguma coisa muito importante para mim, de fato fico ansioso”. Pronto. Agora ele sabe porque o entrevistado está ansioso. E isso não é defeito.

Se apesar de tudo isso a ansiedade continua incontrolável e limitante para algum aspecto da vida, então a pessoa deve procurar tratamento adequado para isso, o qual deve ser preferentemente feito associando-se um tratamento medicamentoso inicial, para controle mais fácil dessa emoção, e o tratamento psicoterápico, mais longo que o primeiro.

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