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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Forma como percebemos o tempo depende da memória.

Aquela velha pergunta alarmante da manhã seguinte à virada do ano ("Ai, o que foi que eu fiz ontem à noite?") – pode até parecer agradável em comparação àquela que pode vir em seguida, "Ai, o que exatamente eu fiz com o ano passado?" Ou: "Espere um minuto – por acaso uma década acabou de passar?"

Sim. Em algum ponto entre a trigonometria e a colonoscopia, alguém deve ter pressionado o botão de avançar. O tempo pode marchar, caminhar, voar ou engatinhar, mas no início de janeiro sempre parece que ele relampejou como um convidado bravo para o jantar, deixando conversas inacabadas, relacionamentos ainda travados, maus hábitos ainda vivos, metas inalcançadas.

Os cientistas não têm certeza de como o cérebro acompanha o tempo. Uma teoria afirma que ele tem um grupo de células especializadas em contar intervalos de tempo; outra diz que uma ampla gama de processos neurais age como um relógio interno.

De qualquer forma, segundo estudos, este marcapasso biológico não possui um grande alcance de intervalos longos. O tempo não parece desacelerar com um gotejar numa tarde vazia e acelerar quando o cérebro está envolvido em pensamentos desafiadores. Estimulantes, incluindo a cafeína, tendem a fazer pessoas sentirem que o tempo está passando mais rápido; trabalhos complexos, como calcular seus impostos, podem parecer se arrastar por mais tempo do que realmente tomam.

E acontecimentos emocionais – uma separação, uma promoção, uma viagem para fora do país – tendem a ser percebidos como mais recentes do que na realidade, em meses ou até anos.

Para resumir, segundo alguns psicólogos, as descobertas sustentam a observação do filósofo Martin Heidegger, de que o tempo "persiste meramente como uma consequência dos eventos ocorrendo dentro dele".

Agora, pesquisadores acreditam que o contrário também pode ser verdade: se muito poucos eventos vêm à mente, a percepção do tempo não persiste; o cérebro encurta o intervalo que passou.

Num estudo publicado na edição de dezembro do jornal Psychological Science, Zauberman liderou uma equipe de pesquisadores que testou a memória de alunos universitários para diversos novos eventos, incluindo a indicação de Ben S. Bernanke para presidente do Federal Reserve (33 meses antes do estudo) e a decisão de Britney Spears de raspar os cabelos (20 meses). Em média, os alunos subestimaram quanto tempo havia passado em três meses, segundo o estudo.

Não foi uma completa surpresa. Num experimento clássico, um explorador francês chamado Michel Siffre viveu numa caverna por dois meses, se afastou do ritmo de noite e dia e fabricou relógios artesanais. Ele ressurgiu convencido de que havia se isolado por apenas 25 dias. Deixado por conta de seus próprios meios, o cérebro tende a condensar o tempo.

No entanto, a forma pela qual ele fixa o tempo relativo de eventos depende da memória, diz o novo estudo. No ponto em que os estudantes no estudo recordaram desenvolvimentos relacionados ao evento original – a complicada vida amorosa de Britney, digamos, ou as intervenções de Bernanke na economia –, esse evento parecia muito distante. Numa série de experimentos, os pesquisadores testaram memórias pessoais e memórias de vídeos vistos no laboratório. O padrão se manteve: quanto mais vinham à mente desenvolvimentos intervenientes relacionados, mais distante parecia o evento original...

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