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sábado, 22 de abril de 2017

Tratamento de ferimentos no corpo


Uma ferida é uma interrupção na continuidade de um tecido corpóreo, geralmente a pele. As feridas podem ser classificadas de diversas maneiras:

•Quanto à profundidade: feridas superficiais, quando atingem apenas as camadas mais superficiais da pele (derme e epiderme), ou feridas profundas, quando atingem níveis mais profundos.

•Quanto à complexidade: feridas simples, que, em geral, são superficiais e livres de sinais de infecção, demandando apenas cuidados com curativos ligeiros e menos frequentes, e feridas complexas, mais profundas, comprometendo tipos diferentes de tecidos além da pele (ossos, cartilagens, tecido adiposo, fáscias musculares, tendões, ligamentos, vasos sanguíneos, tecido nervoso, etc.), muitas vezes infectadas ou com algum grau de necrose.

•Quanto ao formato: ◦Ferida puntiforme, geralmente causada por instrumento perfurante de pequena área de secção transversal, como espinhos, pregos, agulhas, etc.
◦Ferida incisa, de formato linear e bordas regulares, quase sempre causada por lâminas como facas, lâminas de barbear, etc.
◦Ferida cortocontusa, de formato irregular, com diversos segmentos ulcerados e áreas de equimoses adjacentes, normalmente causadas por objetos que tanto produzem lesões por corte e por impacto, como machados, foices, aresta de um tijolo, etc.
◦Ferida perfurocontusa, de formato quase regular e bordas ligeiramente irregulares. Possibilidade de se observar áreas de equimoses e hematomas adjacentes, normalmente causadas por objetos que penetram a pele mediante impacto, como um projétil de arma-de-fogo, por exemplo.
◦Ferida perfuroincisa, de formato e bordas habitualmente regulares, normalmente causada por objetos que penetram a pele com pouco impacto mas com bom potencial de divulsão de tecidos, como uma lâmina de um punhal, por exemplo.

Além dessas, há as feridas não traumáticas: ◦Ferida causada por queimadura de formato irregular e extensão variável, seja causada por radiação ionizante, fonte de calor, abrasão ou produto químico. A queimadura é dita de primeiro grau se há apenas "avermelhamento" do local, sem produção de ferimento; de segundo grau quando há formação de bolhas que se ulceram e formam feridas superficiais; de terceiro grau quando há necrose da derme e tecido adiposo ou de quarto grau quando há necrose de tecidos profundos como ossos, cartilagens, músculos, etc e formação de lesões ulceradas.
◦Ferida causada pelo frio, cujo formato irregular depende da área de pele exposta à baixa temperatura. Muitas vezes pode assumir as mesmas características das queimaduras, apenas com "avermelhamento" local ou com a formação de bolhas ou necrose de tecidos mais superficiais ou profundos.
◦Ferida causada por fatores endógenos como pênfigo, vasculites, psoríase, xeroderma, etc. Têm formatos diversos, na dependência da patologia causadora. Variam de "rachaduras" em determinadas áreas de pele até lesões evolutivas que surgem como pequenos pontos avermelhados ou escurecidos e se desenvolvem em feridas de dificílima cicatrização.

Cada ferida exigirá uma preparação específica, mas há alguns princípios básicos:

•Lavar as mãos antes e depois do procedimento.

•Comunicar previamente ao paciente o procedimento que será realizado.

•Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%.

•Usar técnica estéril ou limpa.

•Aplicar a medicação prescrita.

•Não secar o leito da ferida.

•Utilizar coberturas que favoreçam a cicatrização.

•Preencher as cavidades.

•Proteger as bordas da ferida.

•Ocluir com material hipoalergênico.

•Desbridar quando necessário.

O médico ou o enfermeiro deve registrar em prontuário o procedimento realizado e a evolução da ferida, descrevendo seus aspectos principais.

O tratamento das feridas depende da natureza de cada uma delas e pode ser tão simples como apenas colocar uma cobertura sobre elas ou tão complexo que requeira conhecimentos especializados. Em geral, essa atividade cabe à equipe de enfermagem. Cerca de 80% dos casos são atendidos em nível ambulatorial, mas outros casos tornam necessários conhecimentos teóricos mais aprofundados para um tratamento eficaz, o que faz do tratamento de feridas uma área especializada da enfermagem. Alguns casos têm mesmo de ser tratados por médicos, em hospitais.

Alguns fatores atuam de modo a favorecer o desenvolvimento de uma ferida e a dificultar seu tratamento: diabetes, hipertensão, tabagismo e obesidade. Esses fatores comprometem a perfusão tecidual, aumentando o risco de desenvolver lesões e dificultando a cicatrização quando as mesmas ocorrem.

Nos pacientes acamados ou em uso de cadeira de rodas, os cuidados devem ser redobrados para evitar o surgimento de lesões por pressão que normalmente surgem nos pontos de proeminências ósseas. E, paralelamente, o paciente pode apresentar problemas que interferem no processo de cicatrização como idade e seu estado nutricional.

A cicatrização é um processo sistêmico, que depende do organismo como um todo e, portanto, tanto dos cuidados de enfermagem quanto do tratamento médico das condições subjacentes à ferida e do estado nutricional, emocional, psicossocial e ambiental do paciente.

Numa ferida pode-se encontrar diversos tipos de tecidos, alguns bons que fazem parte do processo normal de cicatrização (tecido de granulação, tecido de epitelização, fibrina, etc.) e outros ruins e que devem ser retirados (tecido macerado, tecido esfacelado, tecido de necrose, etc.).

Por um processo natural, chamado desbridamento autolítico, o organismo realiza a desintegração das células desvitalizadas. Porém, nas feridas crônicas, este mecanismo muitas vezes é insuficiente e a retirada desses tecidos ruins tem de ser feita artificialmente, porque esses tecidos desvitalizados aumentam o risco de infecção e dificultam o processo de cicatrização. Nesses casos, pode ser necessário fazer um desbridamento artificial.

O desbridamento cirúrgico é realizado em centro cirúrgico, pelo cirurgião, e está indicado para casos de necrose. O desbridamento instrumental consiste na remoção do tecido desvitalizado em diversas sessões e pode ser realizado a beira do leito ou em sala de curativos com a utilização de material como bisturi, tesouras e pinças. Esta técnica pode ser realizada por enfermeiro devidamente capacitado com conhecimento e formação específica. O desbridamento enzimático consiste na aplicação tópica de substâncias enzimáticas e proteolíticas que atuam como desbridantes diretamente em tecidos necróticos.

Feito isso, um cuidado especial deve ser dado às coberturas específicas para cada tipo de lesão. O profissional deve escolher a cobertura mais adequada para cada caso, com o objetivo de facilitar o processo de cicatrização.

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