Pesquisar este blog

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Medicina Psicossomática - Aspectos básicos


O termo psicossomático, após séculos de estruturação, surgiu no século passado, através de Heinroth, com a criação das expressões psicossomática (1918) e somatopsíquica (1928).

No entanto, o movimento consolidou-se somente em meados deste século, através das contribuições pioneiras de Franz Alexander e da Escola de Chicago. Contudo, as dúvidas referentes à relação mente corpo continuam expressas na própria denominação “psicossomática” e ainda continua a ser usada por muitos estudiosos destes fenômenos.

Para Alexander, o termo psicossomático “deve ser usado apenas para indicar um método de abordagem, tanto em pesquisa quanto em terapia, ou seja, o uso simultâneo e coordenado de métodos e conceitos somáticos - de um lado e métodos e conceitos psicológicos por outro lado”.

A. Dias (1992, p.31), refletindo a relação entre sujeito e linguagem, começa por criticar o termo psicossomático. Afirma que é um termo gasto, pois “entrou no domínio do psiquiátrico e da medicina com uma tal amplitude que, se bem que criando um novo espaço de investigação, também o diluiu noutros espaços afins”. Propõe ainda que, “a partir de algumas indicações deixadas por Bion”, há necessidade de se interrogar quanto à inespecificidade do termo psicossomático e sua pertinência.

O termo psicossomático, na expressão mais comum, pode reportar-se tanto ao quesito da origem psicológica de determinadas doenças orgânicas, quanto às “repercussões afetivas do estado de doença física no indivíduo, como até confundir-se com simulação e hipocondria, onde toma um sentido negativo”.

No sentido mais preciso, o termo circunscreve áreas específicas, sobreponíveis ou não, quando se refere à medicina psicossomática, doenças psicossomáticas ou psicossomática.

A denominação de medicina psicossomática, de acordo com seu campo epistemológico, “é um estudo das relações mente corpo com ênfase na explicação da patologia somática, uma proposta de assistência integral e uma transcrição para a linguagem psicológica dos sintomas corporais”.

Sami-Ali (1992, p.159) ao refletir sobre a ligação entre o orgânico e o relacional começa por distinguir medicina psicossomática e psicossomática. Assim, a medicina psicossomática é “uma maneira de introduzir variáveis psicológicas num domínio que se define como orgânico, adicionando variáveis psíquicas às variáveis orgânicas”.

A Psicossomática proposta por ele, no entanto, é um modelo teórico e uma metodologia específica, onde o somático é percebido em sua complexidade e não na falha psíquica. Desta forma, Sami-Ali inspira-se na psicanálise, mas a utiliza somente como ponto de partida “para a elaboração de outros conceitos”, afastando-se, desta forma, dos modelos freudianos.

O conceito de doença psicossomática, sua classificação e diagnóstico, é outra questão polêmica. Halliday (1943,1945,1946,1948, cit. Alexander, 1989, p.43) propõe que a úlcera péptica, a artrite reumatóide, a hipertensão, o hipertireodismo essencial e outras estariam inclusos nas doenças psicossomáticas. O ponto de partida deste autor firma-se na hipótese de que o fator etiológico proeminente nestas doenças é o fator psicológico.

No entanto, Alexander2 (1989) diz que, teoricamente, “cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo processo”.

Portanto, a designação de psicossomática, devido a “seu esforço de delimitação e rigor no seu objeto e métodos”, foi distanciado-se cada vez mais da Medicina Psicossomática. No entanto, “isso não significa que se caminhe no sentido da síntese de um modelo psicossomático”, contudo situa-se numa “perspectiva específica no modo de encarar os fenômenos de doença”. E tampouco significa que se tenha resolvido antigas questões do impasse das teorias monistas e dualistas da relação corpo-espírito (Cardoso, 1995, p.5).

Se partirmos do pressuposto da unidade funcional soma-psyche, na qual a psicossomática se funda, “ela constitui, mais uma vez, uma resposta à velha questão da relação corpo espírito”. (Weiss e English, 1952, cit. Cardoso, 1995, p.7), assunto provavelmente tão antigo quanto à própria humanidade, uma vez que a relação entre corpo e espírito foi e continua a ser assunto tão controvertido e fecundo.

Ao fazer referência a insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro, J. C. Heinroth, psiquiatra alemão, utiliza pela primeira vez, em 1818, o termo psicossomática. A medicina psicossomática, a partir do século passado, como reação à tradição dualista cartesiana, surge com a proposta holística na maneira de olhar a doença. Somente no século posterior, o termo psicossomática é retomado, influenciado pelo desenvolvimento da psicanálise e do modelo freudiano, iniciando, desta forma, sua estruturação.

A medicina, conhecedora “das descobertas e da teorização da psicanálise, das investigações no campo da reflexiologia por Pavlov (1976), da neurofisiologia por Cannon (1911) e da conceptualização da noção de stress por Selye (1956), utiliza destas valiosas contribuições para fazer uma nova leitura dos fenômenos.

A história da psicossomática, poderia ser dividida em duas grandes correntes: de um lado, as correntes inspiradas “nas teorias psicanalíticas e com base no conceito de doença psicossomática”; de outro lado, a “inspiração biológica, alicerçada no conceito de stress”.

Para Mello Filho (1992), a evolução da psicossomática ocorreu em fases. A primeira, denominada de fase inicial ou psicanalítica, sob a influência das teorias psicanalíticas, teve seu interesse voltado para os estudos da origem inconsciente das doenças, das teorias da regressão e dos ganhos secundários da doença. A segunda, também chamada de fase intermediária, influenciada pelo modelo Behaviorista, valorizou as pesquisas tanto em homens como em animais, deixando assim grande legado aos estudos do stress. A terceira fase, denominada de atual ou multidisciplinar, valorizou o social, a interação e interconexão entre os profissionais das várias áreas da saúde.

Nenhum comentário: