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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Hiperventilação: conhece?


A síndrome de hiperventilação constitui-se numa emergência médica relativamente comum. É uma condição na qual a frequência respiratória (ventilação) por minuto excede as demandas metabólicas, resultando em alterações hemodinâmicas e químicas que produzem sintomas característicos, os quais também podem ser produzidos pela hiperventilação voluntária. A melhor denominação para esta síndrome pode ser falta de ar comportamental ou dispneia psicogênica, com a hiperventilação sendo vista como uma consequência e não uma causa da condição.

O mecanismo subjacente pelo qual alguns pacientes desenvolvem hiperventilação permanece desconhecido. Uma teoria sugere que certos fatores podem provocar uma resposta respiratória exagerada. Vários destes fatores foram identificados, incluindo perturbação emocional, excesso de lactato de sódio, cafeína, isoproterenol, colecistoquinina e dióxido de carbono.

Uma predisposição para a síndrome de hiperventilação também pode ter raízes na infância, como pais superprotetores, por exemplo. Uma situação estressante súbita mais tarde na vida também pode incitar o primeiro episódio da síndrome. Além disso, tem sido demonstrado que níveis elevados de dióxido de carbono também induzem sintomas de pânico e de hiperventilação, na maioria dos pacientes com predisposição para distúrbios do pânico.

A razão da síndrome de hiperventilação encontra-se parcialmente apoiada na mecânica respiratória. Pacientes com essa síndrome tendem a respirar através do tórax superior ao invés de usar o diafragma. O volume corrente normal de ar respirado varia entre 35 a 45% da capacidade vital, mas a retração da parede torácica resiste à hiperinsuflação dos pulmões e a inspiração para além destes níveis é percebida como esforço. Quando o estresse induz a uma respiração mais profunda, ela é percebida como dispneia, criando ansiedade e, novamente, respiração profunda, num círculo vicioso. Outra teoria é que os pacientes com transtorno do pânico têm um limiar mais baixo para a resposta de luta ou fuga, sendo mais suscetíveis à hiperventilação, mesmo diante de tensões menores. A incidência da síndrome de hiperventilação é maior em parentes de primeiro grau do que na população em geral, mas nenhum fator genético claro foi ainda identificado.

A fisiopatologia subjacente da síndrome de hiperventilação ainda não foi claramente elucidada. A infusão venosa de lactato provoca sintomas de pânico e hiperventilação em 80% dos pacientes com prévios episódios de transtorno de pânico. O metabolismo anormal de lactato parece estar envolvido na patogênese, embora a anormalidade ainda não tenha sido exatamente caracterizada. Além disso, níveis elevados de dióxido de carbono tem se demonstrado capazes de induzir sintomas de pânico na maioria dos pacientes propensos. Proprioceptores localizados na parede do pulmão e do tórax sinalizam ao cérebro com um "alarme de sufocação" e isso desencadeia a liberação de neurotransmissores excitatórios que são responsáveis por muitos dos sintomas, tais como tremor, palpitações, ansiedade e disforia.

Os sintomas da síndrome de hiperventilação e do transtorno do pânico se sobrepõem consideravelmente, embora as duas condições sejam distintas. Metade ou mais dos doentes com distúrbio do pânico e agorafobia sofrem de hiperventilação manifesta. A síndrome de hiperventilação pode ser aguda ou crônica. Embora a forma aguda represente apenas 1% dos casos, é mais facilmente diagnosticada. A forma crônica pode apresentar-se com uma miríade de sintomas respiratórios, cardíacos, neurológicos ou gastrointestinais, sem mostrar maior esforço respiratório. A hipocapnia (diminuição de dióxido de carbono no sangue) pode ser mantida mesmo sem qualquer alteração evidente na frequência respiratória se o paciente apresenta frequentes suspiros, intercalados com a respiração normal. Os sintomas mais comuns incluem sensação de asfixia, agitação, hiperpneia (aceleração e intensificação dos movimentos respiratórios), taquipneia (aceleração do ritmo respiratório), dor no peito, dispneia, tonturas, palpitações, dores tetânica, parestesias (sensação anormal e desagradável sobre a pele que assume diversas formas, como queimação, dormência, coceira etc), fraqueza generalizada e síncope.

Alguns pacientes recebem um diagnóstico errado de problema orgânico, sobretudo cardiológico, e são considerados incapacitados pelos seus sintomas. Alguns chegam a ser submetidos a melindrosos e desnecessários testes diagnósticos na tentativa de descobrir as causas orgânicas de suas queixas.

O diagnóstico da síndrome de hiperventilação crônica é muito mais difícil do que a da síndrome aguda porque a hiperventilação não costuma ser clinicamente evidente. Muitas vezes, esses pacientes já foram submetidos a extensas investigações médicas e foram atribuídos a eles vários diagnósticos enganosos. Os pacientes com história prévia de síndrome de hiperventilação podem não precisar de qualquer avaliação laboratorial quando de uma recorrência, bastando o reconhecimento da sintomatologia típica. Os estudos de imagem só são úteis para ajudar na exclusão de quadros assemelhados.

Os pacientes são tratados com psicoterapia e reciclagem da respiração e vários medicamentos psicotrópicos, como, por exemplo, benzodiazepínicos e inibidores seletivos da recaptação da serotonina.

A síndrome de hiperventilação pode começar quando criança e continuar no mesmo padrão na idade adulta. Muitos pacientes têm distúrbios associados, como a agorafobia, por exemplo, que podem dominar o quadro clínico.

As complicações encontradas nos pacientes com esta síndrome estão relacionadas principalmente aos procedimentos invasivos e a investigações que são empregados para excluir outras doenças. No entanto, as complicações também podem ocorrer como resultado de sintomas produzidos pela hiperventilação, como uma queda, por exemplo, durante um episódio de síncope.

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